PorLuciane Sartori*
“Ah, Português! Português, a gente dá um jeito na hora da prova e pronto.”; “É muito chato estudar isso!”; “Estudar Português é uma besteira, a gente usa todo dia!”; “Minha formação é ótima, nem preciso estudar essa matéria.”
Esses são os pensamentos que muitas pessoas têm em relação à matéria de Língua Portuguesa quando decidem prestar prova de concurso público (o pior é que continuam pensando assim durante um bom tempo). Por isso, deixam essa matéria de lado e vão estudar as matérias específicas.
E o que acaba acontecendo? Reprovação, pois essas pessoas acertam muitas questões das matérias específicas ou até as gabaritam, mas em Português, principalmente, não conseguem o mínimo necessário para a aprovação.
Muitas vezes até a alcançam, porém com classificação muito baixa, o que dificulta a sua nomeação.
Português é matéria de conhecimento geral
Pessoal, não se pode deixar de lado o estudo das matérias de conhecimento geral, especialmente, Português, já que ele faz parte de quase todos os editais.E, em concurso, o assunto não é brincadeira.
Tanto que ele é que tem feito a diferença: nas provas da área policial, é Português que reprova muito candidato; nas provas de tribunais, ele “tira” muita gente da lista de classificados; nas provas da área fiscal, é Português que marca a diferença para muitas pessoas; no último concurso da Receita Federal, especialmente na prova de Analista, aconteceu exatamente isso; nas provas com redação discursiva, está lá o Português outra vez, marcando ponto contra os concurseiros.
As provas estão ficando cada vez mais difíceis, as bancas cada vez mais exigentes e enquanto esse pensamento adotado predominar, o mau desempenho predominará também.
O ideal é que vocês estudem as matérias básicas dos concursos – Português, Matemática, Direito Constitucional, Direito Administrativo – constantemente. Façam uma boa teoria – atenção à carga horária; quanto maior, melhor – e nunca deixem de fazer as manutenções – aulas de correção de questão de prova.
Faça aulas de correção
E aulas de correção de prova, por quê? Sempre digo que, de modo geral, as pessoas não sabem estudar Português, pois normalmente pensam que é a teoria que deve ser muito bem assimilada, para depois fazer os exercícios.
Isso vocês devem deixar para os Direitos, que são matérias de assimilação. Português se estuda como Matemática, fazendo muito exercício, mas muito mesmo.
Observem também que as bancas têm linguagens diferentes umas das outras e várias abordagens dos examinadores não correspondem com as dos livros.
Eles trabalham com textos, ou seja, com a dinamicidade da linguagem e sua evolução, bem como com o desenvolvimento da própria teoria. Daí ser imprescindível estudar por resolução de questões de provas anteriores da banca que fará a prova do cargo que você almeja.
Nós, professores do assunto, temos de ter a preocupação de passar a vocês todos os mecanismos da linguagem e seus conceitos para depois revelarmos os pontos principais. Ou seja, os pontos mais cobrados em prova, em especial pela banca a ser enfrentada.A vocês cabe entender entender esses mecanismos e conceitos para colocá-los em prática nos exercícios logo em seguida.
Vocês notarão que haverá dificuldades em resolver as questões, mesmo que tenham entendido tudo o que foi visto em aula. Isso é natural, pois o duro caminho a ser percorrido da teoria à prática é que fará com que vocês realmente assimilem o assunto.
E, para completar esse ciclo da aprendizagem, é essencial que, ao sentir dificuldades nas resoluções, retomem a teoria a fim de entender o que não havia ainda sido apreendido.
Da prática à teoria
Portanto, não é da teoria para a prática, mas da prática para a teoria que se estuda a Língua Portuguesa. Isso facilitará a assimilação daquilo que vocês compreenderam em aula, trará o entendimento de como aplicar melhor a teoria na prática da prova. E, ainda, proporcionará a soma de conhecimentos, pois aprendemos muita coisa com a própria prova.
Para ajudar nesse aspecto, fica aqui uma dica muito importante: passem a usar no dia a dia tudo o que aprendem em sala de aula, isso ajuda muito. Normalmente o conteúdo cobrado nas provas tem relação com os vícios que adquirimos na linguagem falada, os quais poluem nossa linguagem escrita. É justamente neste ponto que os examinadores se apoiam com frequência para a elaboração dos itens das questões.
Portanto, se vocês colocam em prática o que têm de saber na teoria, a linguagem padrão normativa não mais lhes causará estranheza, vocês eliminarão os vícios e, ainda, se tornarão mais assertivos para responder aos testes.
Mudança de perfil das provas
Outro ponto muito significativo é como as provas estão sendo elaboradas; elas têm mudado de perfil. Antes se cobrava muito a gramática pela gramática, agora não é mais assim.
Em verdade, o que tem acontecido é que as provas têm exigido do candidato o conhecimento da aplicação do conteúdo: estudamos gramática porque ela é ferramenta para lermos e escrevermos; assim, os examinadores continuam cobrando casos práticos de gramática, porém têm se empenhado mais em cobrar a sua aplicação em questões de reescritura de frases e de melhor redação, por exemplo.
Por isso, é muito comum ouvirmos assim: “professora, quase não caiu gramática na prova; caiu muita interpretação de texto”, e isso não é verdade. Gramática cai, tanto em questões práticas, de gramática mesmo, como também, maquiada, em questões como as que citamos acima.
Alicerce para resolver toda a prova
É relevante mencionar, ainda, que estudar Português ajudará os concurseiros na resolução de toda a prova. Em questões voltadas para a área do direito como também as voltadas para a área de exatas, muitos candidatos perdem ponto porque não entenderam o enunciado.
Eles não compreenderam o item da questão ou não sabiam como interpretar a situação-problema colocada em análise. Enfim, a dificuldade aí é de comunicação, ou seja, de falta de estudo de Língua Portuguesa.
Pode até ser complicado assumir isso, mas deslizes gramaticais, falta de conhecimento na elaboração de frases e falta de técnica de leitura e de conhecimento da estrutura textual levam as pessoas a errar questão de qualquer matéria, e não somente as específicas de Português – afinal toda a prova é elaborada nesta língua.
Bom preparo físico é preciso
Lembremos também que não é apenas o conhecimento do assunto que fará vocês conseguirem responder a todas as questões e acertá-las. Dependendo da prova que irá enfrentar, o candidato tem de ter muita agilidade, muita rapidez para chegar à resposta, pois as perguntas são muitas e o tempo extremamente curto.
Logo, quem não está bem preparado, não consegue sequer resolver todas as questões. Acaba sendo vencido pelo cansaço ou pelo tempo ou pelos dois.
É por esse motivo que costumo dizer que o candidato a concurso público não deve ter apenas preparo de conhecimento, mas também preparo físico.
Sempre comparo vocês a um maratonista. Imaginem que ele queira participar de uma prova de corrida como a São Silvestre e deixe para correr mesmo somente no dia da prova.
Ele não irá conseguir chegar ao fim, desistirá logo no começo, assim como vocês. Se deixarem para resolver a prova somente no dia, não irão aguentá-la, desistirão antes do fim.
Estudos antes do edital
Como o objetivo é vê-los alcançar a conquista de uma ótima classificação, volto a dizer: não deixem Português para depois, façam o contrário; estudem-no com constância e deixem para estudar as específicas quando sair o edital.
Os que vêm prestando prova sabem que essa matéria tem de estar bem fresquinha na memória. Outro detalhe, e o mais importante: os editais têm mudado muito, especialmente nestas matérias específicas.
Dessa forma, ganha-se muito tempo e economiza-se muito dinheiro só estudando tais assuntos quando o edital especifica o que deve ser estudado.
Espero que todos consigam destinar a dedicação e o empenho necessários a esta estrada que, apesar de difícil, é possível.
Estarei sempre junto de vocês fazendo a minha parte, pesquisando, confrontando, apresentando as novidades, fazendo as estatísticas dos tipos de questões de cada banca, tudo o que for necessário para vê-los vitoriosos.
*Luciane Sartori é graduada em Letras e pós-graduada em Metodologia de Ensino para Terceiro Grau. Ela é professora especialista em Português – gramática, interpretação de textos, redação discursiva e redação oficial. É revisora e redatora de textos há mais de 25 anos, com vinte anos de experiência na área de concursos.
Atualmente, leciona na LFG, atuando como docente do curso preparatório para concurso público.
Conteúdo editado pela LFG, referência nacional em cursos preparatórios para concursos públicos e Exames da OAB, além de oferecer cursos de pós-graduação jurídica e MBA.