Tudo sobre o correto uso da crase

Uso da crase: homem confuso

Preparamos este artigo para lhe ajudar a dominar o uso da crase!

“Crase é assunto fácil”, explica Luciane Sartori, professora de português da LFG. Segundo ela, o que faz as pessoas errarem seu emprego, mesmo, é a falta de entendimento da frase. “Portanto, muita atenção à sua construção.”

O assunto é um dos que mais gera dúvidas em estudantes e concurseiros. Por isso, apesar de não ser um tema complexo, é necessário estar atento às diferentes regras e situações em que a crase deve aparecer.

Para nunca mais errar o emprego do acento grave (`), decore o básico — e veja abaixo algumas dicas bem práticas compartilhadas por Luciane.

Uso da crase: Reta Final INSS

O que é crase? Veja 5 exemplos do uso

A crase é um resultado fonético de uma fusão. Isso significa que ela acontece sempre que dois sons iguais são unidos a partir da pronúncia, e não se limita apenas ao “a” acentuado.

Na verdade, a crase se estende a toda fusão de vogais iguais, e não só à junção do a+a, como costumamos pensar.

No entanto, no português brasileiro, quando falamos em “crase” estamos, com frequência, fazendo referência ao acento grave (`) que é utilizado em cima do “a” quando ele representa a junção de dois “a”: o artigo e a preposição, criando o som “aa”.

Há alguns casos, mais conhecidos, que ilustram a crase. Confira, abaixo, 5 exemplos principais e as suas justificativas.

1. Demonstrativos iniciados por “a”

Crase só pode haver com demonstrativos que se iniciam por “a” — aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, a, as. Portanto, antes de esse, isso, este, isto etc. a crase não existe.

Exemplos:

  • Entreguei o pacote àquela mulher.
  • Entreguei o pacote a este homem.

2. Artigo feminino

Crase com artigo feminino só ocorre se a referência for um substantivo feminino: “Fui à feira”. Portanto, nunca antes de verbo ou de nome masculino.

Uma dica para saber se o acento grave deve ser usado, inclusive, é transformar a palavra feminina em uma palavra masculina. Se o “a” virar “ao”, então a crase é necessária.

Na frase acima, “Fui à feira”, poderíamos dizer também: “Fui ao hospital”. 

Você nota que o “a” (preposição) aparece junto do “o” (artigo)? Então pode imaginar que, diante de uma palavra feminina, esse “a” (preposição) faria a fusão “aa”. Por isso, há crase.

3. Artigo definido

Crase só com artigo definido “a” (ou “as”), nunca com o indefinido “uma” (ou “umas”): “Disse à menina”, mas “Disse a uma menina”.

Vale lembrar também que os artigos definidos devem estar no feminino! Diante de “o” ou “um”, no singular ou plural, a crase nunca acontece.

4. Expressões femininas

Crase só ocorre em expressões com palavras femininas, nunca em expressões com palavras masculinas: “Saiu às pressas”, “Pagou a prazo”.

5. Palavras femininas no plural

Crase antes de palavras femininas no plural só ocorre se a sua forma for no plural também: “Vou às festas” ou “Vou a festas”.

Confira também: 100 dicas de português para concurso

Quando usar a crase? Veja todos os casos!

Já apresentamos os cinco principais casos de uso da crase:

  1. Diante de demonstrativos iniciados por “a”;
  2. Diante de artigos femininos;
  3. Diante de artigos definidos;
  4. Diante de expressões femininas; e
  5. Diante de palavras femininas no plural.

No entanto, esses não são os únicos casos em que o uso da crase é empregado. Para te ajudar a mapear cada um desses casos, separamos todos eles abaixo. Continue lendo e saiba mais!

1. Diante de palavras femininas que não repelem artigo

A crase acontece sempre que uma preposição se une ao artigo “a”. Mas você sabia que, em alguns substantivos, esse artigo é “repelido”? 

Por exemplo:

  • Fui a Copacabana.
  • Fui à Barra da Tijuca.

Na primeira frase, o substantivo “Copacabana” repele o artigo “a” — o que não significa que ele é masculino, porque ele também não aceita o artigo “o”. Nesse caso, o uso do acento grave não deve acontecer. 

Já na segunda frase, o substantivo “Barra da Tijuca” aceita o artigo “a” e, portanto, recebe crase na construção.

Para descobrir se um substantivo leva crase ou não, basta construir frases em que outras preposições são usadas. Por exemplo:

  • Voltei de Copacabana.
  • Voltei da (de + a) Barra da Tijuca.

2. Diante de pronome possessivo que se refere a um substantivo oculto

Imagine a seguinte frase:

Foi àquela casa e não à sua.

Ela é uma forma mais simples da frase “Foi àquela casa e não à sua casa”, que evita a repetição desnecessária do substantivo “casa”. Note, portanto, que o substantivo “casa” se torna oculto. 

Quando isso acontece, o artigo que precede o pronome possessivo deve vir craseado, como no exemplo acima.

3. Diante de locuções adverbiais constituídas de substantivo feminino plural

O uso do acento grave é, portanto, exigido diante de expressões como:

  • às vezes;
  • às claras;
  • às escondidas;
  • às três da manhã;
  • à tarde.

4. Diante da palavra “terra” quando ela tem significado de terra natal ou planeta

Este é um dos casos do uso da crase que se torna extremamente específico. A palavra “terra” pode ou não admitir crase, a partir do seu sentido na frase. Confira os exemplos:

  • O astronauta voltou à Terra (planeta).
  • Depois de viajar muito, enfim cheguei à minha terra (terra natal).

Estava com saudade de tocar a terra (solo).

Por isso, sempre pense bem na semântica das palavras! Não desconsidere as mudanças que o sentido pode trazer para as regras de ortografia.

5. Diante de casos de elipses de expressões como “à moda de”, “à maneira de”

É muito comum o uso dessas expressões no cotidiano brasileiro, e também em menus e cardápios. Um exemplo é o famoso “arroz à grega”, que significa “arroz à (moda) grega”.

Quando esses casos acontecem, o uso da crase é obrigatório.

6. Diante de um numeral que informa a hora

Para dizer as horas, a crase também é obrigatória. Confira os exemplos abaixo:

  • Cheguei às 21 horas;
  • Acordei às oito da manhã.
  • O encontro foi à uma da tarde.

A única exceção para este caso é o “meio-dia”. Ao informar esse horário, deve-se dizer:

Almoçamos ao meio-dia.

No entanto, em um caso como “Estamos abertos das 8h às 12h”, a crase também é obrigatória. Isso porque a leitura correta da frase seria “das oito horas às doze horas”. 

Quando não usar crase? Veja 8 exemplos

Assim como, em alguns casos, o uso da crase é obrigatório, em outros ele deve ser evitado a todo custo. E é tão importante memorizar essas situações quanto aquelas em que a crase deve ser utilizada.

Isso porque é muito comum que concursos e provas tenham questões recheadas de pegadinhas. Conhecendo as regras de quando deixar a crase de lado, você se prepara melhor para esses casos.

Abaixo, separamos 8 casos em que o acento grave não deve ser usado de forma nenhuma. Confira!

1. Diante de substantivos masculinos

Essa era bastante óbvia, mas não custa nada lembrar. Mantenha em mente que a crase é a junção de dois “a”: a preposição e o artigo feminino. No caso de substantivos masculinos, o artigo usado será o “o”. Por isso, teremos a contração “ao”.

  • Joaquim vai ao trabalho.
  • Levei meu filho ao barbeiro.

2. Antes de numerais

Os numerais são uma classe gramatical que não costuma receber acento grave. Por isso, quando se deparar com eles em uma frase, lembre-se de não usar a crase.

  • Encontramos as oito meninas que saíram da festa.

O único caso em que esta regra não se aplica é quando lidamos com horas, que sempre devem vir indicadas por crase:

  • Nosso encontro foi às oito.

3. Diante de palavra indefinida

Os artigos e pronomes indefinidos não devem nunca vir acompanhados por crase, mesmo quando são femininos. Confira os principais para não confundir:

  • O mercado fica a uma rua da minha casa.
  • Entreguei os convites a cada uma das convidadas.
  • Falei o mesmo a toda pessoa que passou por aqui.
  • Completarei a corrida a qualquer custo.
  • Já estávamos a certa distância quando ele ligou.

No entanto, preste bastante atenção! Quando você se deparar com a palavra “uma” na frase, confira se ela não é um numeral que indica hora. Nesse caso, haverá uso do acento grave:

  • Tomei o remédio à uma da tarde.

4. Diante dos pronomes relativos “que”, “quem” e “cuja”

Quando o “a” for uma preposição que antecede um desses pronomes relativos, a crase não deve ser utilizada. Confira os exemplos:

  • Esta é a pessoa a quem fizeste alusão.
  • O autor a cuja obra a crítica se referiu é bastante conhecido.
  • Ali vai a criança a quem demos um presente.

5. Diante de verbos no infinitivo

Esta regra é bastante simples, afinal, verbos no infinitivo não pedem artigo. Assim, a fusão de “a + a” não pode acontecer.

  • Ficou a ver navios.
  • Cheguei a temer pela minha vida.

6. Diante de pronome pessoal e pronomes de tratamento

Antes do pronome pessoal e dos pronomes Vossa Excelência, Vossa Senhora e Vossa Majestade, o acento grave também não deve ser utilizado. Confira os exemplos:

  • Não disseram a você toda a verdade.
  • Dirijo-me a Vossa Excelência com respeito.

7. Nas expressões formadas com a repetição do mesmo termo

Este é um dos erros mais comuns no uso da crase. No entanto, palavras repetidas separadas por preposição não devem ser acentuadas nunca. 

Confira algumas das expressões mais comuns deste caso:

  • Frente a frente;
  • Cara a cara;
  • Dia a dia.

8. Diante da palavra “casa” quando desacompanhada de adjunto

Assim como acontece com a palavra “terra”, a palavra “casa” também ganha um uso especial em que o acento grave é dispensado. Quando acompanhada de um adjunto, a preposição que a antecede não deve ser marcada pela crase:

  • Irei a casa logo mais.
  • Chegamos cedo a casa.

O que é crase facultativa? Confira 4 exemplos

A crase facultativa diz respeito aos casos em que o uso do acento grave não é obrigatório, mas pode acontecer. Estes são os casos favoritos dos concursos, uma vez que é muito fácil criar questões com pegadinhas se o candidato não se preparar bem.

Abaixo, separamos os 4 principais casos em que a crase pode ou não ser usada. Fique atento a eles!

1. Antes de pronome possessivo com substantivo feminino claro

O pronome possessivo pode ou não receber crase. Em frases em que ele antecede um substantivo feminino claramente identificável, ela é facultativa. Confira os exemplos:

  • Dirigiu-se à minha casa.
  • Dirigiu-se a minha casa.

Mas fique atento! Embora esse caso seja de crase facultativa, no português brasileiro é muito comum que o acento grave seja usado. 

2. Antes de nome próprio feminino

O mesmo acontece com os nomes próprios femininos, que podem ou não receber crase. No português brasileiro, porém, não é comum que ela seja grafada, especialmente porque não temos o hábito de dizer “ao” antes de um nome masculino.

Veja os exemplos:

  • Os comentários eram feitos à Laura.
  • Os comentários eram feitos a Laura.
  • Contei as novidades ao João.
  • Contei as novidades a João.

3. Antes da palavra “casa” quando acompanhada de expressão que denota qualificação

Assim como acontece com a palavra “terra”, a palavra “casa” também tem a sua regra de acentuação grave modificada de acordo com outros elementos da frase. 

De acordo com o gramático Evanildo Bechara, sempre que a palavra “casa” vier acompanhada de uma expressão que a classifique, o acento grave será opcional.

Veja um exemplo:

  • Irei à casa de meus pais.
  • Irei a casa de meus pais.

4. Depois da preposição “até”

Este caso também era imaginável, mas sempre vale a pena lembrar: a crase é uma união entre a preposição “a” com o artigo “a”. Por isso, nas frases em que a preposição “até” aparece, não é possível que haja qualquer fusão de sons iguais.

Veja um exemplo:

  • Fomos até a Gávea.

Nesse caso, o “até” faz o papel da preposição “a” e impede que os sons similares sejam unidos. Sem essa junção, o acento grave não acontece.

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Confira 3 dicas para o uso correto da crase

Memorizar os casos em que a crase deve, não deve e pode ser utilizada é bastante trabalhoso para algumas pessoas. Evidentemente, é necessário conhecer todas as regras e saber quando aplicá-las, mas também existem formas mais simples de fazer pequenas verificações.

Abaixo, separamos 3 dicas para você saber aplicar o uso correto da crase. Dê uma olhada!

1. Substitua a palavra feminina por uma masculina

Esta é a dica clássica da regra de crase. Afinal, ela só pode acontecer antes de palavras femininas, certo? Por isso, faça o teste: se você substituir a palavra masculina que segue o “a”, ele vira “ao”?

Nos casos positivos, a crase deverá ser usada. Por exemplo: 

  • Fui à festa / Fui ao baile.

2. “Vou a, volto da, crase há”

Esta é uma dica especial para os topônimos. Como os nomes dos lugares podem ou não pedir crase, experimente fazer essa brincadeira: Vou a [nome do lugar], volto da [nome do lugar], case há.

  • Vou à Bahia, volto da Bahia.
  • Vou a Salvador, volto de Salvador.

3. Tente usar outras preposições

Esta dica é importante para verificar se há mesmo uma fusão entre preposição e artigo. Experimente trocar o “a” por outra preposição, como o “de” ou o “para”. Se a frase ainda fizer sentido, então provavelmente há crase:

Falei às meninas que me ligassem / Falei para as meninas que me ligassem.

Agora que você já sabe todas as regras de crase, não deixe de conferir mais do Blog LGF! Nossos conteúdos são pensados principalmente para estudantes e concurseiros e estão recheadas de outras dicas importantes.

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