Conheça a série Bom Dia, Verônica e como ela pode ajudar em seus estudos

Fotografia de divulgação com dois atores da série Bom dia, Verônica.
Saiba como a série pode te ajudar a entender melhor diversos temas atuais relacionados à área de Direito!

Bom dia, Verônica é uma série ímpar para o estudante de Direito: além de ser uma produção nacional, ela escapa do modelo de obra que mostra o trabalho dos advogados e se propõe a apresentar a atuação da Polícia Civil.

Até então com duas temporadas, a série tem colocado a produção audiovisual brasileira no nível mundial. Com temas sensíveis e importantes, uma investigação que te prende do início ao fim e atuações brilhantes, Bom Dia, Verônica é uma grata surpresa no catálogo da Netflix.

Neste texto, iremos apresentar o enredo da obra e passar pelos seus pontos principais. Entretanto, a ideia central é mostrar como ela pode trazer boas reflexões para o Direito, fazendo um paralelo com a realidade do país e nosso ordenamento jurídico.

Esperamos que você faça uma boa leitura e em seguida acompanhe essa ótima produção brasileira!

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Qual o enredo de Bom Dia, Verônica?

A série segue Verônica Torres, uma escrivã da Polícia Civil que trabalha em uma delegacia de homicídios em São Paulo. Apesar de cumprir um papel mais burocrático na corporação, sua realidade muda ao presenciar um suicídio dentro da delegacia e receber, na mesma semana, uma ligação de uma mulher pedindo ajuda.

À medida em que a história vai se desenvolvendo, Verônica e o telespectador vão descobrindo que os casos são bem mais complexos, com uma trama que envolve pessoas bem poderosas. Neste cenário de corrupção e crime organizado, entram no meio as polícias, tanto Civil quanto Militar, e um orfanato.

Já na segunda temporada, Verônica segue combatendo essa enorme organização criminosa, porém, agora, com um novo inimigo: uma igreja. Agora, a suspeita é de estupro dentro da religião, em uma espécie de ritual de cura.

Bom Dia, Verônica caminha desta forma, mostrando crimes bárbaros, a profundidade que a corrupção e as organizações criminosas podem chegar e as muitas formas que as mulheres são violentadas na nossa sociedade.

Nesse cenário, a série desenvolve todos os seus temas, que são importantíssimos para quem quer ter uma visão crítica da sociedade, das organizações e do Direito. Abordaremos os principais a seguir, mostrando como eles se apresentam em Bom Dia, Verônica e na realidade brasileira.

A série é centrada no trabalho da Polícia Civil

Quando pensamos em séries de Direito, sempre vem à nossa cabeça aquelas que mostram o trabalho dos advogados, pelo menos na maioria das vezes. Por mais que esse seja o caminho que a maioria dos graduados irá seguir, é interessante que a ficção também mostre outras realidades.

Sendo assim, Bom Dia, Verônica faz esse papel, pois, além da personagem principal ser da Polícia Civil, grande parte da história se passa em cima do trabalho da instituição. Deste modo, a série mostra bastante o que a corporação faz, ajudando aqueles que confundem com a Polícia Militar.

Fica bem claro na obra que a Polícia Civil trabalha realizando investigações, seja nas ruas ou dentro da delegacia. Já a Militar, que também aparece na série, é aquela ocupada de combater o crime de forma imediata, usando o poder coercitivo e realizando vigilância.

Em Bom Dia, Verônica dá para perceber uma relação complexa: ao mesmo tempo em que as instituições não demonstram muito apreço pela outra, existe um pacto silencioso de não agressão, no qual dificilmente um policial civil irá investigar um militar e um militar irá prender um civil.

Acompanhando Verônica isso fica ainda mais perceptível; além do seu trabalho como escrivã ficar no âmbito administrativo, ela é barrada de investigar algumas pessoas. E essa proteção ultrapassa as polícias, chegando em outras organizações grandes da sociedade.

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A abordagem da violência doméstica em Bom Dia, Verônica

Grande parte da primeira temporada da produção é centrada em Verônica tentando ajudar Janete, uma mulher que é constantemente violentada por seu marido, o policial militar Brandão. A dificuldade da personagem para buscar ajuda é um motor para fazer a história desenrolar.

Entretanto, Janete é um reflexo das mulheres que sofrem violência doméstica e familiar no Brasil. Apesar de não estar satisfeita dentro do relacionamento, possui diversos medos que a impedem de procurar ajuda e se libertar do marido.

No país, desde 2006 temos a Lei Maria da Penha, nome popular da Lei 11.340, que busca coibir a violência doméstica e familiar que é alta no país. Neste contexto, são penalizados as ações contra as mulheres que atacam sua integridade:

  • física;
  • moral;
  • patrimonial;
  • psicológica; e
  • sexual.

Mesmo com os avanços da lei e da própria sociedade em reconhecer a violência doméstica como um grande problema no país, a realidade ainda é muito dura. De acordo com dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, até julho deste ano, já havia passado de 31 mil denúncias desses casos.

A série, inclusive, mostra ao final de cada episódio um site para quem está sendo vítima de violência.

A realidade do feminicídio no Brasil

Além da violência doméstica e familiar, o mistério central da série está em casos de feminicídio. Temos aqui a existência de serial killer que ataca apenas mulheres, oferecendo emprego para aquelas que acabaram de chegar em São Paulo e precisam de uma oportunidade.

Para quem não sabe, o feminicídio ocorre em dois casos: quando o assassinato ocorre com mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar e quando sua causa é a aversão pelo gênero feminino. Na série, é possível perceber ambos os casos.

No Brasil, o feminicídio passou a ser uma qualificadora do homicídio, com a promulgação da Lei nº 13.104. A lei coloca a pena de doze a trinta anos, superior ao homicídio simples, que é de seis a vinte anos. Há ainda quatro casos em que a condenação irá aumentar de um terço até metade, quais seja:

  1. contra mulher grávida ou três meses após o parto;
  2. contra pessoa maior de 60 anos, com deficiência ou com doença degenerativa que reduz sua capacidade física ou mental;
  3. na presença de ascendentes ou descendentes da vítima, mesmo que seja virtual; e
  4. descumprindo as medidas protetivas de urgência da Lei Maria da Penha.

Em Bom Dia, Verônica os casos não chegam a se encaixar em nenhuma pena de aumento do feminicídio, apesar de serem crimes cometidos em série. Entretanto, eles são mais problemáticos por serem voltados para mulheres pobres, aquelas que acabam em contato com o assassino por ir atrás de uma promessa de trabalho após chegar na maior cidade do país.

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O estupro e outras violências sexuais na série

Quando chegamos na segunda temporada, apesar de Verônica continuar investigando o mesmo grupo, a série traz uma nova faceta do crime. Agora, estamos diante do crime de estupro e de demais violências sexuais contra as mulheres.

Na produção, os casos são ainda mais complicados por envolverem a fé. A história mostra um religioso popular que afirma ter o dom da cura e escolhe algumas mulheres para passar uns dias na casa dele numa espécie de terapia intensiva. O grande problema é que o ritual que ele propõe envolve a prática sexual.

Nisso, ao acreditarem que estão curadas, as vítimas possuem grande dificuldade de perceber que passaram por um abuso, por um ato criminoso. A história é parecida com o caso de João de Deus, um médium que, no meio de cirurgias espirituais, abusou de mais de 200 mulheres. Sobre ele, existem séries documentais no Globoplay e na Netflix.

Os números de estupro no país são alarmantes; este ano tem tido 7 casos por hora. Há ainda um agravante, que mostra que a maioria das vítimas deste crime são menores de 14 anos. Apesar de ser uma história fictícia, Bom Dia, Verônica está bem próxima da realidade brasileira.

A realidade abafada do tráfico de pessoas

Apesar de a primeira temporada focar na violência doméstica e no feminicídio e a segunda no estupro, os casos possuem uma ligação que leva para algo ainda maior. Os criminosos de cada história possuem uma relação pessoal e participam do mesmo esquema criminoso, que chega até o tráfico de pessoas.

No artigo 149-A, do Código Penal, o tráfico de pessoas consiste em agenciar, transportar, comprar, ou acolher pessoa, através de grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, para:

  1. retirar órgão ou partes do corpo;
  2. manter em trabalhos em condições análogas à escravidão;
  3. submeter a qualquer tipo de servidão;
  4. adoção ilegal; e
  5. exploração sexual.

Bom Dia, Verônica deixa claro o tamanho do crime, que apesar de envolver muitas pessoas, é dificílimo de ser descoberto e, principalmente, penalizado. Além de contar com pessoas influentes envolvidas, muitas vítimas não sabem que estão nessa situação, achando que estão diante de uma boa oportunidade de trabalho.

A pena para o crime é de 4 a 8 anos, podendo aumentar de um terço até a metade se:

  1. for cometido por funcionário público aproveitando de sua função;
  2. for contra criança, adolescente, idoso ou deficiente;
  3. o criminoso tiver parentesco ou autoridade sobre a vítima; e
  4. a vítima for para outro país.

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A corrupção dentro dos espaços de poder

Como último tema, deixamos um assunto que está presente em cada episódio das duas temporadas da série, a corrupção. Dentro de cada crime destacado no texto, a polícia cumpriu o papel de encobri-los na série.

Em cada momento que Verônica tenta investigar algo dentro da lei, ela é barrada de alguma forma. Entretanto, essa corrupção não vem acontecendo apenas no âmbito do poder público; grandes organizações da sociedade também estão nesse meio, como uma igreja e um orfanato.

Esse é, talvez, o ponto mais desesperador da série, pois além de mostrar crimes terríveis, aqui surge uma sensação de impunibilidade muito grande, um sentimento de que essas situações serão para sempre protegidas.

Felizmente, pouco a pouco Verônica vai pegando os culpados de alguma forma, mostrando que essa organização pode sim ser descoberta. Para a terceira temporada, um novo vilão irá aparecer, deixando os fãs em dúvida do que ele representará nesse esquema de poder.

Qual foi a recepção da crítica para Bom Dia, Verônica?

Por se tratar de uma série brasileira, é mais difícil encontrar críticas a Bom Dia, Verônica. Nos principais sites especializados, que reúnem diversas resenhas, ou a obra não está listada ou não possui pontuação da crítica.

Em sites brasileiros, a série costuma ter boas críticas, que elogiam a relevância de seu tema e a qualidade, ainda mais como obra brasileira, que está começando a ganhar espaço nos streamings. Em geral, a primeira temporada é mais bem avaliada, ainda que a segunda não seja vista como ruim.

Outro detalhe que agradou a crítica foram as atuações. Além de Tainá Muller mandar bem no papel principal, os atores coadjuvantes se destacam. Na primeira temporada tivemos Camila Morgado e Eduardo Moscovis, enquanto na segunda q——–uem brilha é Klara Castanho e Reynaldo Gianecchini.

Apesar de o Brasil não contar com premiações muito conhecidas para seriados, Bom Dia, Verônica conquistou alguns troféus. Sendo indicada na primeira temporada principalmente como melhor série e pelas categorias de atuação, Eduardo Moscovis e Camila Morgado ganharam alguns prêmios como o casal Brandão e Janete.

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E como foi a aceitação do público?

Para o público, a série fez ainda mais sucesso! No site Adoro Cinema, baseado em 194 notas, Bom Dia, Verônica alcançou 4,2 em 5 estrelas

No IMDB, com votos de 4.637 usuários, a obra recebeu 7,6 em 10. Ela teve uma aceitação um pouco melhor entre as mulheres e os mais novos, caindo quanto mais velha fosse a audiência.

Em sites próprios para que o telespectador marque e avalie as séries assistidas, o sucesso também foi visível. No Banco de Séries, onde os usuários marcam cada episódio, a primeira temporada recebeu 8,92 e a segunda 8,75

Já no Filmow, famosa rede social sobre produções do audiovisual, em cinco estrelas, a obra recebeu 4,2 para a primeira e 3,8 para a temporada final. Com todo esse sucesso, agora nos resta esperar pela terceira temporada!Esperamos que você tenha se interessado por Bom Dia, Verônica, assista a série e deixe seu comentário sobre ela. Se você quer conhecer outra série da área, que tal ler sobre How to Get Away With Murder e sua relação com o Direito?

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